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sexta-feira, 10 de agosto de 2012

O AMOR NO ISLÃ E A DANÇA DO VENTRE:


O amor no Islã (E onde entra a dança do ventre...)

Bem, algumas pessoas me conhecem e sabem que o blog e a dança do ventre não resumem meu contato com o mundo árabe. Eu também não tenho ascendência árabe - que eu saiba - mas a minha pesquisa acadêmica é toda voltada para o mundo árabe, em especial para o mundo árabe medieval. Estou lendo atualmente sobre um autor que pouca gente conhece: Ibn Hazm. Alguém, alguém?! Não? Bem, encontrei algo muito legal no Hazmizinho que liga à dança do ventre, pelo menos no emaranhado de ideias que perpassam minha cabeça... Vamos aos fatos!

Ibn Hazm é conhecido por uma obra muito importante, "O Colar da Pomba", que trata do amor romântico. O que seria isso? O amor de se apaixonar, da "dor de cotovelo", do suspirar, do ansiar, da dor, o "amor de Camões", "Amor é fogo que arde sem ver, é ferida que não se sente", por aí! Sim, masIbn Hazm é anterior a Camões, ele escreve sobre esse amor no séc. XI, quando os ocidentais ainda ensaiavam um amor cortês (que é esse amor apaixonado), alguns estudiosos chegam a afirmar que esse tipo de literatura surgiu pela influência das obras islâmicas no mundo ocidental, sem querer desmerecer as trovas de amor da Alta Idade Média, é claro...

Bem, qual é a ligação com a dança do ventre! Quem eram as amadas dos homens? (Isso quando não eram homens mesmo, mas isso fica pra outra história). As amadas eram as escravas!! Elas possuíam mais liberdade que as mulheres livres, elas saíam às ruas, andavam sem véu, elas que dançavam também. Claro, não posso dizer que a dança do ventre era praticada em Al-Andalus (terra do Ibn Hazm) como era no Egito, porque no Egito desde que o mundo é mundo, a dança do ventre existe, está além da escrita da história. Mas independente disso, a obra me trouxe a impressão que a dança não estava presente só num local estritamente feminino ou com o viés da prostituição, mas também entre os apaixonados. Aí logo me veio a imagem de uma dançarina linda surgindo entre os convidados e encontrando o olhar de um homem verdadeiramente apaixonado!! Ai que emoção!

A escrava poderia se casar com um homem livre e assim se tornar uma "mulher livre", o que paradoxalmente faria perder a liberdade, mas além dessa situação, o que me chama a atenção no relato de Ibn Hazm é perceber que a paixão nunca deixou de existir, mesmo numa sociedade que reprimia e segregava a mulher das relações sociais. Essa repressão não vinha de uma concepção de inferioridade da mulher, muito pelo contrário, mas pelo poder que a mulher possuía sobre o homem, ela poderia dominá-lo sobretudo pelo sexo (pois as mulheres, segundo a crença islâmica, possuem nove vezes mais desejo sexual que os homens), e era necessário mantê-la satisfeita e presa para que não se sobrepusesse ao homem!

Mulheres de um lado, homens do outro, eram então as escravas que estabeleciam a ligação com o mundo masculino, que então representavam a beleza e a sedução femininas, que traziam a dança, o canto, a paixão. E vendo pelo lado do amor, que eram valorizadas, ansiadas, desejadas, queridas, estimadas com os melhores sentimentos.

Para quem se interessar, este site tem vários poemas da obra "O Colar da Pomba" em espanhol. O livro é em prosa e em verso, e trata de todas as formas de se apaixonar e suas consequências. Para quem não lê em espanhol, uma breve tradução de um de seus poemas:

Quando estou ao seu lado,
Meus passos são como o prisioneiro
A quem levam ao suplício
Quando vou ao seu encontro, corro como a lua cheia
Quando atravessa os confins do céu
Mas, ao seu lado, ando devagar
Como se movem as altas estrelas que se fixam no céu.

E para quem fala inglês, o poeta Robert Bly declama poemas de Ibn Hazm em "O Colar da Pomba":
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Leia mais: http://www.dancadoventrebrasil.com/2010/05/o-amor-no-isla-e-onde-entra-danca-do.html#ixzz23CGmsKAd

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