terça-feira, 17 de setembro de 2013

CARTA DO CHEFE ÍNDIO SEATTLE:







Trechos da carta escrita, em 1854, pelo Chefe índio Seattle ao então Presidente dos EUA, Franklin Pierce, "o grande chefe branco de Washington", que pretendia comprar uma imensa faixa territorial de sua tribo prometendo em troca "uma reserva".




Como podereis vós comprar ou vender o céu, o calor, a terra? Se nós possuíssemos a frescura do ar, e a frescura da água, de que maneira poderia Vossa Excelência comprá-los? Cada pedaço dessa terra é sagrado para o meu povo. Cada espinho do pinheiro, cada rio murmurante, cada bruma nos bosques, cada clareira, cada zumbido de inseto é sagrado na lembrança e na vivência do meu povo.



A seiva que corre nas árvores lembra o meu povo. Nós somos uma parte da terra, e ela faz parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs; o cervo, o cavalo, a grande água, são nossos irmãos.

As rochas escarpadas, o aroma das pradarias, o ímpeto de nossos cavalos e o homem, todos são da mesma família.

Assim, o Grande Chefe de Washington, mandando dizer que quer comprar nossa terra, está pedindo demais a nós índios. Manda o Grande Chefe dizer que nos reservará lugares onde poderemos viver confortavelmente entre nós. Ele será nosso pai e nós, seus filhos.

Prometemos pensar na vossa idéia de comprar nossa terra. Mas não será fácil, pois essa terra para nós é sagrada. A água cintilante que corre nos riachos e rios não é só água, mas, também, o sangue de nossos ancestrais. Os rios são nossos irmãos.

Eles saciam nossa sede, levam nossas canoas e alimentam nossos filhos. Se nós vendermos nossa terra, vós deveis vos lembrar e ensinar vossos filhos que os rios são nossos irmãos e também vossos, e vós deveis doravante dar aos rios a ternura que mostrais para um irmão.

Sabemos que o homem branco não entende nossos costumes. Um pedaço de terra para ele é igual ao pedaço da terra vizinha, pois é um estranho que chega, às escuras, e se apossa da terra de que tem necessidade.

A terra não é sua irmã, mas sua inimiga, e uma vez conquistada, o homem branco vai mais longe. Seu apetite arrasará a terra e não deixará nela mais que um deserto.

Não sei, nossos costumes são diferentes dos vossos. A imagem de vossas cidades faz mal aos olhos do homem vermelho. Mas, isso talvez seja porque o homem vermelho é um selvagem e não entende.

Não há mais lugar calmo nas cidades do homem branco; a barulheira parece estourar os ouvidos. O índio prefere o doce assobio do vento lançando-se como uma flecha sobre o espelho de um lago, e o aroma do vento molhado pela chuva do dia ou perfumado pelo pinheiro.

O ar é precioso ao homem vermelho, pois todas as coisas participam do mesmo sopro - o animal, a árvore, o homem. Eles dividem todos o mesmo sopro. O homem branco parece não se lembrar do ar que respira. O vento, que deu ao nosso avô o primeiro fôlego, recebeu, também, seu último suspiro.

Pensaremos, portanto, na vossa oferta de comprar as nossas terras.

Mas, se decidirmos aceitá-la, eu porei uma condição: o homem branco deverá tratar os animais selvagens como irmãos. Vi mais de mil bisontes apodrecendo nos campos, abandonados pelo homem branco, que os abateu de um trem que passava.

O que é o homem sem os animais? Se os animais desaparecerem, o homem morrerá dentro de uma grande solidão.

Ensinai também a vossos filhos aquilo que ensinamos aos nossos: que a terra é nossa mãe. Dizei a eles que a respeitem, pois tudo o que acontecer à terra, acontecerá aos filhos da terra. Seus homens cospem no chão, eles cospem sobre eles mesmos. Ao menos sabemos isto: a terra não é do homem; o homem pertence à terra. Todas as coisas são dependentes. Não foi o homem que teceu a teia de sua vida, ele não passa de um fio desta teia. Tudo o que ele fizer para esta teia, estará fazendo para si mesmo.

Há uma coisa que sabemos, e que o homem branco descobrirá, talvez um dia: é que nosso Deus é o mesmo Deus, e sua piedade é igual, para o homem vermelho e o homem branco. Esta terra lhe é preciosa, e danificá-la é acumular de desprezo seu Criador.

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