Ogum, como personagem histórico africano, é apontado como o filho primogênito de “Odudua”, o fundador de Ifé (cidade da Nigéria, considerada a capital religiosa dos iorubás). Em todos os cantos da África negra Ogum é conhecido, fez-se respeitar pelo seu carácter devastador, pois soube conquistar cada espaço daquele continente com a sua bravura, caracterizado como o ORIXÁ CONQUISTADOR. Era um temível guerreiro que brigava sem cessar contra os reinos vizinhos. Dessas expedições ele trazia sempre rico espólio e numerosos escravos. Pode-se dizer que Ogum matou gente no entanto matou a fome de muita gente, por isso, antes de ser temido, Ogum é calorosamente amado.
Ogum é a força do Avanço, do Trabalho, aquele que está sempre na frente. Ogum foi quem ensinou o homem a forjar o ferro e o aço, representando a avanço, a tecnologia e as transformações que o trabalho propicia. Para Ogum a retidão, a verdade e a justiça são importantes, mas sua principal ocupação não é determinar o que é certo ou errado, e sim fazer prevalecer aquilo que julga certo, portando Ogum faz justiça com as próprias mãos, empreendendo e decidindo, jamais deixando para outros o que julga ser problema e domínio seu.
Ogum, sendo irmão de Exu, tem grande entrosamento com ele. Se Exu é dono das encruzilhadas, assumindo a responsabilidade do tráfego, de determinar o que pode e o que não pode passar, Ogum é o dono dos caminhos em si, das ligações que se estabelecem entre os diferentes locais.
Oxossi sendo irmão de Ogum aprende com ele a arte da caça, de abrir caminhos pelas florestas e matas cerradas. Foi Ogum quem ensinou Oxossi a defender-se por si próprio e a cuidar da sua gente. Ogum fez de Oxossi o provedor.
Ogum não teve o direito de usar uma coroa (adé), feita com pequenas contas de vidro e ornada por franjas de miçangas dissimulando o rosto, emblema de realeza para os iorubas, a Ele foi autorizado usar apenas um “simples” diadema, chamado de àkòró, o capacete.
No livro de Pierre Verger ‘Notas sobre o culto aos Orixás e Voduns’, há algumas transcrições de textos onde historiadores, religiosos e pesquisadores tentaram desvendar os mistérios da África e dos Orixás. Entre essas transcrições vejam a de Herskovits, um importante antropólogo americano, escrito na década de 1930: Gu* situa-se, no panteão do céu, imediatamente após seus pais Mawu e Lisa. Gu, o deus do ferro, representa uma das principais forças do mundo para ajudar o homem. É a divindade particular dos que trabalham com o ferro. Foi ele quem tornou a terra habitável para o homem. Não é um ser sensível, mas uma força. Representam-no com um corpo de pedra e uma cabeça de ferro. Gu não é o ferro em si, mas sua prosperidade de cortar. Era ao mesmo tempo uma vareta ou um instrumento, o Gubassa, que Mawu pôs nas mãos de seu filho Lisa com a finalidade de arrotear (arar) a terra e ensinar aos homens o uso do ferro. Sem metal o homem não poderia viver. Gu tem o nome de Alisugbogukle (caminho fechado e Gu abre).
*Gu é o nome dado a Ogum pelo povo fon, população do sul do Benin e sul do Togo, do Reino do Dahomey.
Emocionante, não?
Agora vejam que beleza essa lenda mostrando, entre tantos detalhes, Ogum e Oxaguiã trabalhando juntos pela conquista da fé, que quando completa e verdadeira gera o alimento sempre farto. Mostra que Ogum dá as ferramentas de trabalho para aqueles que se ‘sacrificam’, e fica claro que quem tem que trabalhar é o próprio necessitado.
Ogum faz instrumentos agrícolas para Oxaguiã.
Oxaguiã, rei de Ejigbô, o Elejigbô, chamado “Orixá-Comedor-de-inhame-pilado”,
inventou o pilão para saborear mais facilmente seus prediletos inhames.
Todo o povo do seu reino adotou a sua preferência.
Todo o povo de Ejigbô comia inhame pilado.
E tanto se comia inhame em Ejigbô que já não se dava conta de plantá-lo.
E assim, grande fome se abateu sobre o povo de Oxalá.
Oxaguiã foi consultar Exu, que o mandou fazer sacrifícios
e procurar o ferreiro Ogum, que naquele tempo viva nas terras de Ijexá.
O que podia fazer Ogum para que o povo de Ejigbô tivesse mais inhame?,
consultou Oxaguiã.
Ogum pediu sacrifícios e logo deu a solução.
Em sua forja, Ogum fez ferramentas de ferro.
Fez a enxada e o enxadão, a foice e a pá, fez o ancinho, o rastelo, o arado.
“Leve isso para o seu povo, Elejigbô, e o trabalho na plantação vai ser mais fácil.
Vão colher muitos inhames, mais do que agora quando plantam com as mãos”, disse Ogum.
E assim foi feito e nunca se plantou tanto inhame e nunca se colheu tanto inhame.
E a fome acabou.
O povo de Ejigbô, agradecido cultuou Ogum e ofereceu a ele banquetes de inhames e cachorros,
caracóis, feijão-preto regado com azeite-de-dendê e cebolas.
Ogum disse a Oxaguiã:
“Na casa de seu Pai todos se vestem de branco, por isso também assim me visto para receber as oferendas”.
E o povo o louvava e Ogum ficou feliz.
E o povo cantava:
“A kaja lónì fun Ògúnja mojuba”.
“Hoje fazemos sacrifício de cachorros a Ogum,
Ogunjá, Ogum que come cachorro, nós te saudamos”.
Oxaguiã disse a Ogum:
“Meu povo nunca há de se esquecer de sua dádiva.
Dê-me um laço de seu abadá azul, Ogum, para eu usar com meu axó funfun, minha roupa branca.
Vamos sempre nos lembrar de Ogunjá”.
E, do reino de Ejigbô até as terras de Ijexá, todos cantaram e dançaram.
Um excelente sábado de Ogum a todos !! Muito Axé !!
Escrito por Mãe Mônica Caraccio
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