Por baixo do véu
outubro 13, 2011 in Francesinha
Muita gente deve ser lembrar da personagem interpretada por Giovanna Antonelli, a Jade, da novela « O Clone », que foi reprisada há pouco tempo. Com traços bastante caricatos mas de alguma forma ancorados na realidade, a autora tentou aproximar o espectador brasileiro à cultura oriental e à alguns costumes religiosos muçulmanos. E um mundo que parece tão distante do Brasil foi uma das primeiras coisas que me saltou aos olhos quando desembarquei aqui na França.
A religião muçulmana é a segunda maior aqui, e mulheres com véu não são difíceis de serem vistas nas ruas. Mas antes de entrar na questão do uso do véu, assunto pra um outro post, quero apresentar um pouco dessas mulheres que fazem parte do meu mundo aqui. E, mesmo tendo o véu que cobre a cabeça (o hijab é o mais comum, deixa o rosto exposto), não deixam de ser vaidosas e mostrar predileções por marcas, inclusive as de luxo.
A primeira muçulmana com quem tive contato foi uma colega no curso de verão de francês, que veio da Síria fazer seu doutorado em sociologia. Sim, elas estudam, e muito, geralmente concentram-se nas ciências humanas. Esta minha colega, assim que defendesse a tese, voltaria pra seu país assumir o posto de professora universitária. De uma beleza digna de “Mil e uma noites”, em pleno verão provençal (por isso, entenda-se temperatura mínima de 32 graus) ela ia pra aula sempre com o véu, cuidadosamente colocado e devidamente preso por grampos, uma blusa de mangas compridas embaixo de uma camiseta casual estampadinha, calça comprida e sapatos. Somente as mãos e o rosto ficam expostos. De acordo com o Corão, a dissimulação das formas femininas se faz necessária para não fazer o homem cair em tentação e impedi-lo de pecar. E antes de atirarem pedras, lembrem-se que até o início do século XX as mulheres católicas cobriam com um véu a cabeça durante as missas, seguindo instruções da Bíblia. Além de usar lenços cada dia mais bonitos, ela estava sempre impecavelmente maquiada, ressaltando bem os olhos (gente, como são lindos os olhos dos árabes!).
Foi essa minha colega que me explicou um pouco sobre sua religião e me esclareceu sobre o uso do véu, que vou contar melhor em outra ocasião. Por enquanto, foco nos lenços e no luxo. Se elas tem de se cobrir, a atenção é desviada aos acessórios : sapatos, bolsas, óculos e os lenços. Imaginem a seguinte cena : loja da Louis Vuitton na Champs Élysées. A mortal que vos fala passa em frente pra ir em direção do Arco do Triunfo e para pra namorar a vitrine, quando de repentem saem quatro mulheres cobertas de preto, só com o rosto à mostra, cada uma com duas sacolas imensas da LV, óculos luxo, sapatos Louboutin, e entram, as quatro juntas, numa Mercedes que as esperava em frente. Minha reação : morri !! Porque, além de tudo, elas eram altas, e eu sou um toco de gente. LV, Hermès e Chanel parecem ser as marcas de predileção delas com relação aos acessórios, como vejo aqui pelo sul também. E não sem motivo, já que a marca de luxo conota poder aquisitivo, que é bem valorizado no oriente também, mas sobre isso eu falo da próxima vez!
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