OMULU - OBALUAÊ - "REI" E "O DEUS DA TERRA"
O SENHOR DAS DOENÇAS
É o Orixá das doenças e relacionado a um arquétipo psicológico derivado de sua postura na dança. Omulu-Obaluaê
esconde do mundo suas chagas, não deixa de mostrar, pelos sofrimentos
implícitos em sua postura. Tendo tendência a um caráter masoquista,
desajeitado, pesado, reservado e auto-destrutivo, muito forte, que tanto
pode se revelar como uma grande capacidade de somatização de problemas
psicológicos. Existem várias controvérsias a respeito da dualidade de
Omulu-Obaluaê. Há quem refira serem dois deuses distintos, ou seja,
Obaluaê-Sànpònná(Xapanã) filho de Nanã-Buruku vindo de Daomé (o leste) e o outro, Omulu-Molu filho de Nanã-Brukung vindo de Tapás, ou Nupé
(o oeste). Obaluaê o Senhor da terra, classificado como o mais jovem. A
ele é atribuído o instinto selvagem, devastador, curioso, guerreiro,
colérico e de temperamento acirrado para guerrear e conquistar novos
territórios. Omulu o Senhor do pó, classificado como o mais velho, com
uma bagagem de conhecimentos, tornando-se famoso na habilidade de curar
as pessoas. Sua ação na natureza é realizar a eliminação, tirando e
dando fim ao que não serve mais. Omulu ceifa os doentes e os feridos sem
esperança. Tudo que se coloca sob a ação de Omulu é realizado com
lentidão, atraso e prudência. Xapanã (o feiticeiro) é a representação da
varíola e das doenças contagiosas, sendo raramente seu nome
pronunciado. É aquele que puni os malfeitores, enviando-lhes todos os
tipos de doenças. Omulu-Obaluaê segundo Pierre Verger em sua obra
Orixás, conta que, houve um sincretismo entre as duas divindades vindas
do leste e oeste da África, que juntaran-se e tornaram um caráter único
em Kêto. Este Orixá conquistou grande poder e respeito dentro do
candomblé, pois é capaz de afastar as epidemias e espantar a morte. No
candomblé, tal interpretação pode ser por demais restrita. A marca mais
forte de Omulu-Obaluaê não é o seu sofrimento, mas o convívio com ele.
Xaxará |
Alguns pesquisadores supõem que o culto aos deuses daomeanos é anterior a
idade do ferro, pois em certas partes da África e no Brasil não são
realizados sacrifícios com o uso de instrumentos de ferro. As pessoas
consagradas e este Deus usam um colar chamado Lagdibá, feito de pequenos anéis de cifre de búfalo.
Quando o Deus se manifesta em um de seus filhos, o iniciado é coberto
com uma roupa feita em palha-da-costa e um capuz do mesmo material. Leva
nas mãos o xaxará, uma espécie vassoura feita de folhas de palmeira e
decorada com búzios. Carrega também cabaças contendo remédios que passa
nos visitantes durante a dança mítica, afastando qualquer tipo de
doença.
Seu culto é cercado de mistérios e em sua dança, apresenta-se curvado
para a frente, próximo ao chão, imitando o sofrimento e tremores de
febre. Omulu-Obaluaê é o dono dos cauris (búzios) utilizado ao oráculo
africano, embora ele não seja o dono do oráculo, que pertence a Ifá,
podemos considera-lo como o patrono do jogo de búzios. É através de
Obaluaê que o jogador entra em contato com as forças mais poderosas,
dominando inclusive a vida e a morte, representadas na figura desse
Orixá.
SÃO LÁZARO |
SINCRETISMO CATÓLICO
Sincretizado com santos católicos que notabilizaram pelo trato com as doenças.
Omulu está ligado a São Roque, comemorado a 16 de Agosto. Obaluaê
está ligado a São Lázaro, comemorado a 17 de Dezembro. Em alguns lugares
do país, ambos podem
estar ligados a São Bento, que tem sua festa em 21 de Março. Também é
muito reverenciado no dia 2 de Novembro, dia das almas, onde as pessoas o
consagram com muitas velas no cemitério.
Na mitilogia romana pode-se ligar Omulu a Saturno, o Deus que ensinou a agricultura aos homens,
e na mitologia grega ele está ligado a Cronos.
Dia da semana: segunda-feira
Cores: Branco (paz e cura), preto (absorção de conhecimento) e/ou vermelho (atividade)
Elemento: Terra
Instrumanto: Xaxará
Saudação: Atotô! (Oto, "Silêncio")
CEMITÉRIO |
Omulu-Obaluaê divide com Iansã a regência dos cemitérios, pois ele é o emissário de Oxalá (princípio ativo da morte), para buscar o espírito desencarnado. É Omulu-Obaluaê que vai mostrar o caminho e servir de guia para aquela alma. É o médico, companheiro de Exu nas encruzilhadas, preside a morte, a destruição e a defesa contra os maus espíritos.
AS VARIAÇÕES DE OMULU-OBALUAÊ
Afomam/Akavan: Esta variação tem uma ligação com Exu. Afomo significa contagiante, infeccioso.
Arinwarum(ouwariwaru): É um titulo de Xapanã.
Azonsu/Ajansu/Ajunsu: Este
tem fundamentos com Oxalá, Oxumaré e Ogum. É ligado ao tempo, as .
estações do ano e ao culto da terra. É o verdadeiro dono do cuzcuzeiro,
veste-se de vermelho, preto e branco, na perna esquerda leva uma
pulseira de aço.
Azoani: É jovem, veste preto e branco. Tem caminhos com Iroko, Oxumaré, Iemanjá e Oyá.
A CURA |
Arawe/Arapaná: Tem fundamento com Oyá.
Ajoji/Ajagun: Tem fundamentos com Ogum e Oxaguiã.
Avimaje/Ajiuzium: Tem fundamentos com Nanã e Ossãe.
Ahosuji/Seji: Tem ligação com Iemanjá, Oxumaré/Besén.
Afenan: É
uma qualidade mais velha, dança curvado e cavando a terra com Intoto
para depositar os corpos que lhe pertencem, veste a estopa, carregando
duas bolsas de onde tira as doenças. Usa as cores amarelo e preto.
Todas as plantas que são trepadeiras pertencem a ele. Tem caminhos com
Oxumaré e Ewá, de quem é companheiro.
Intoto: É
um Orixá cultuado em seu assentamento e não vira na cabeça de ninguém.
Suas contas são o vermelho e preto. O Iyàwó é feito de Oxum ou Azoani.
Da-se comida a terra. Este Orixá é Abìkú, portanto não se raspa, pois
representa o fundo da terra. Come com Ewá, Oyá e Iku. Seus assentos são
cultuados ao lado de Nanã e Iemanjá.
Jagun Agbagba: Tem fundamento com Oyá.
Jagu Jagun ou Ajagun: É
jovem e guerreiro; leva na mão uma lança chamada Okó. Tem caminhos com
Ogunjá, Oxaguiã, Ayrá, Exu e Oxalufã. Não come feijão preto, sendo o
único que come Igbin (caracol).
Posun/Posuru:
É o mesmo do Azunsun do Gege, louvado como Possun no Keto e na Angola,
tanto é Iroko como o Tempo. Come diretamente na terra, sua dança mostra
claramente sua ligação com Exu e a terra, dançando com garras na mão.
Tem caminho com Iroko, Intoto e Oyá.
Zavalu/Sapecó: Tem forte fundamento com Nanã.
Soponna/Sapata/Sakpatá: É
o mais antigo e seu nome é proíbido pronunciar. Na África, quando se
fala seu nome, coloca-se mel na boca. Tem fundamento nas encruzilhadas e
come com Exu. Tem caminhos com Oxóssi e é o Deus da varíola e das
doenças de pele. Suas contas são branca e preta.
Tetu/Etetu: É jovem e guerreiro. Come com Ogum e Ewá. Veste-se de branco, preto e vermelho.
DEBURÚ |
A LIMPEZA SAGRADA
Deburú (pipoca) é a comida ritual do Orixá Omulu-Obaluaê, milho de pipoca estourada com areia da praia.
O MITO - O ISOLAMENTO
Conta a lenda que um certo dia de festa, todos os deuses estavam
dançando, menos Obaluaê, que ficara timidamente na porta. Ogum, então,
perguntou a Nanã: Meu irmão está lá fora, não vem dançar? Nanã respondeu
que ele tinha medo de aparecer um público, devido ao estado da pele de
seu corpo. Ogum, então resolveu ajudá-lo, pois não pode ver uma situação
à sua frente em que alguém sofra por desrespeito ou preconceito dos
outros. Ogum resolveu o problema convencendo Obaluaê a acompanha-lo até a
floresta, onde teceu para ele uma roupa feita com folhas que esconderia
sua aparência. Assim Obaluaê teria coragem para entrar na sala onde
ocorria a festa, sem medo de ser rejeitado. Porém, a estratégia de Ogum
não foi muito bem sucedida. Muita gente tinha visto Ogum sair para ir
até Obaluaê antes de se reaproximar trazendo uma figura misteriosa, pois
ela estaria carregada de pestes e poderia contaminar a todos. Somente
Iansã, a deusa dos ventos, altiva e corajosa, concordou em acompanha-lo.
Dançou com Obaluaê e, junto com eles, o turbilhão de ventos. Os ventos
de Iansã levantaram as vestes dele. Então todos os presentes, com
espanto, puderam verificar que, abaixo das vestes, se escondiam o rosto e
o corpo de um homem belíssimo, sem defeito algum. Em recompensa pelo
gesto de Iansã, Obaluaê deu o poder a ela de reinar sobre os mortos. Mas
Obaluaê sempre continua sua dança sozinho.
LOCAL DE DOMÍNIO - A TERRA
ARQUÉTIPO DOS FILHOS DE OMULU-OBALUAÊ
São pessoas muito desconfiadas, metódicas, mal-humoradas e que têm um
tendência ao pessimismo. Costumam ver desgraças aonde não há. São
pessoas que normalmente são desapegadas dos bens materiais. Rigorosas,
introvertidas, personalidade mutável, extremistas, insatisfeitas e
descontentes com os trabalhos que realizam. São solitárias, mesmo
quando estão cercadas de pessoas, continuarão sentindo-se sós. Pessoas
de pouca beleza exterior, mas sua inteligência é poderosa, mas não é
vibrante e intelectual. Podem atingir cargos de prestígio dentro de sua
função, ma para isto terão que trabalhar seu sentimento de negativismo e
senso crítico. Seus filhos têm uma memória excelente e demonstram
curiosidade em relação a todos os assuntos. Não se adaptam a mudanças e
costumam ser muito caseiros. Guardam ressentimentos e injúrias por muito
tempo. É difícil ver um filho de Obaluaê apaixonar-se violentamente,
ele gosta e até mesmo ama com moderação.
Tanto Obaluaê como Omulu são tidos como feiticeiros que castigam
impiedosamente a quem desrespeita, e impingem seu castigo severo,
colocando-lhes doenças. Mas também, ao verem o arrependimento do
castigado, podem lhe trazer a cura através de sua benevolência, e são
raras as vezes em que eles trazem o seu perdão.
"Salve o médico dos pobres"
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